Os quatro jovens que perderam a vida dentro de um automóvel no início do ano morreram asfixiados por monóxido de carbono, confirmou a Polícia Civil de Santa Catarina na manhã desta sexta-feira, dia 12. A asfixia foi “decorrente de alterações irregulares no sistema de escapamento do veículo”, disseram as autoridades.
Uma coletiva de imprensa foi realizada para apresentação de informações sobre os laudos periciais e o andamento do inquérito policial do caso envolvendo a morte dos jovens, no dia 1º de janeiro deste ano, em Balneário Camboriú, no Litoral de Santa Catarina. As vítimas estavam dentro de uma BMW estacionada na rodoviária do município.
Os laudos comprovaram que o gás saiu pelo ar-condicionado do veículo, que passou por pelo menos três customizações. Quando a perícia chegou no automóvel, o ar-condicionado estava ligado em 27ºC, no modo de recirculação do ar (sem entrada de ar externo). Não foram identificadas bebidas ou drogas dentro do veículo.
A entrevista coletiva ocorreu no auditório do Centro Administrativo da Segurança Pública, com a participação da Secretaria da Segurança Pública, Polícias Científica e Civil e da Superintendência de Urgência e Emergência da Secretaria da Saúde.
Trabalho pericial foi apresentado em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (Foto: Ricardo Trida/SECOM)
As vítimas:
▪ Gustavo Pereira Silveira Elias, 24 anos
▪ Karla Aparecida dos Santos, 19 anos
▪ Tiago de Lima Ribeiro, 21 anos
▪ Nicolas Kovaleski, 16 anos
Ao todo, 22 policiais científicos se envolveram nas investigações e 18 exames periciais já foram realizados dentro do caso, mas o número pode aumentar. O delegado Vicente Soares disse que as investigações continuam para buscar os responsáveis pelas mudanças no veículo, que poderão responder por homicídio culposo.
Os quatro jovens eram naturais de Paracatu e Patos de Minas, em Minas Gerais, e moravam na Grande Florianópolis há cerca de um mês, segundo o delegado Bruno Effori. O grupo ficou cerca de quatro horas dentro do carro ligado com o ar-condicionado funcionando. Os jovens foram encontrados já em parada cardiorrespiratória, houve tentativa de reanimação, mas sem sucesso.
Levantamentos do trabalho pericial
▪ A Polícia Científica chegou na rodoviária de Balneário Camboriú por volta das 8h50 do dia 1º de janeiro. Os corpos já sem vida estavam fora do carro, sob a calçada, depois do atendimento de urgência e emergência do Samu.
▪ Os corpos chegaram ao setor de Medicina Legal da PCISC às 10h15, e os exames necroscópicos iniciaram às 10h40. Como as vítimas apresentavam evidentes características de asfixia, foram colhidas amostras de sangue e urina para exames laboratoriais, incluindo a quantificação de monóxido de carbono. Os corpos não apresentavam lesões traumáticas, descartando possíveis ações de terceiros.
▪ O setor de Toxicologia Forense analisou as amostras e descartou a presença de entorpecentes, venenos e bebidas alcoólicas nas vítimas. Já os exames de carboxihemoglobina acusaram níveis fatais de monóxido de carbono superiores a 50% em três vítimas e, entre 49% e 50% na quarta vítima, confirmando a asfixia por monóxido de carbono como causa das mortes.
▪ O Setor de Engenharia Forense da Polícia Científica realizou uma série de exames periciais no veículo, contando em alguns deles com o suporte e apoio técnico da empresa fabricante. Durante os trabalhos foram identificadas quatro alterações na estrutura original, realizadas com o propósito de aumentar a potência e o ronco do motor.
▪ Uma delas consistiu na retirada de uma peça original do veículo onde se encontra o catalisador, sistema que elimina até 90% do monóxido de carbono gerado pelo motor, dando lugar a peça similar conhecida como downpipe. No entanto, além de não apresentar o sistema de filtragem dos gases, o novo componente se rompeu durante o uso e provocou a saturação do ambiente interno do veículo com monóxido de carbono, fato causador das mortes.
De acordo com a Divisão de Engenharia Forense da PCISC, ao medir o nível de monóxido de carbono no interior do veículo, com o ar-condicionado ligado, em 16 minutos foi obtida contagem de 1.000 ppm, nível máximo de alcance do aparelho medidor. Sem a presença do ar-condicionado, esse nível foi zero. Em comparação com um veículo de estrutura original preservada, mesmo medindo diretamente na saída do escapamento, esse nível é de 30 a 40 ppm.
13/01/2024 Tvsul